domingo, 6 de abril de 2014

História Viva: Vacas e vacinas

Embora a real descoberta dos vírus só tenha sido iniciada no fim do século XIX, as experiências na área da virologia já haviam começado cem anos antes, mesmo sem o conhecimento desses microscópicos agentes patogênicos.

No século XVIII, o mundo estava assolado por uma grave doença viral: a varíola. Endêmica na maior parte do planeta, foi inclusive a principal causa da queda da Tríplice Aliança na América (também conhecida como Império Asteca, embora essa noção tenha sido questionada por historiadores do século XIX, já que era na verdade uma coligação de três importantes cidades indígenas, sendo Tenochtitlán a de maior poder). Já no século XVII, epidemias de varíola na Inglaterra matavam o equivalente a um sexto dos nascimentos.

Tetas (úbere) de vaca contaminada com a varíola bovina.
Nesse contexto, Edward Jenner, um médico inglês, descobriu a vacina. Em 1789, ele notou que as vacas possuíam uma versão mais leve da varíola, apresentando as feridas características da doença nas tetas (úbere). Em 1796, instigado por um ditado popular que dizia que as mulheres do campo nunca contraíam varíola e pelo fato de que elas realmente tinham a pele mais bonita, sem as terríveis manchas da doença, Jenner começou sua pesquisa. Ele supôs que as mulheres do campo, por ordenharem as vacas, estavam expostas ao vírus da varíola bovina, e por isso contraíam a versão mais leve da doença, porém conseguindo imunidade para a fatal varíola humana.

Como teste para sua hipótese, Edward Jenner contaminou um garoto com o vírus da varíola, retirando o pus das feridas de uma vaca contaminada e espalhando-o por arranhões no braço do menino. As consequências foram uma leve febre e suaves lesões na pele, com recuperação rápida, muito diferente da doença humana normal. Para ratificar o experimento, ao contaminar o mesmo garoto com a varíola humana o menino só contraiu febre e não desenvolveu o resto da doença. Estava descoberta a imunização.

Em 1797, Jenner mostrou seus relatos para a Royal Society, a Academia de Ciências do Reino Unido, porém seu trabalho foi rejeitado por haver provas insuficientes. Então, o médico inglês realizou novos testes semelhantes em várias outras crianças, inclusive seu filho, obtendo os mesmos resultados. Assim, em 1798, sua pesquisa foi publicada. Entretanto, a crítica era fervorosa e não admitia que se infectassem seres humanos com uma doença bovina, ridicularizando a ideia.

Felizmente, as vantagens da imunização suplantaram os ideais nobres dos pesquisadores científicos da época, já que quem não se imunizava sofria os males de uma das piores epidemias que a humanidade já viu. Foi-se dado o nome de vacina (de vaccinia, o agente infeccioso da varíola bovina) para esse novo modo de imunização. E depois de muito esforço, em 1980, a varíola foi erradicada do planeta, conforme a Organização Mundial de Saúde.

Fonte da imagem: http://rehagro.com.br/

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